terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Arquétipo de Oxum


ARQUÉTIPO DE OXUM

As pessoas de Oxum são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza.
Gostam de chamar a atenção do sexo oposto. São boas donas de casa e companheiras, despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas.
Oxum é destemida diante das dificuldades enfrentadas pelos seus. Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o mel, seduzindo Ogum até que ele volte a produzir os instrumentos para a agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.
Oxum enfrenta o perigo quando Olodumare, Deus supremo, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra).
Transformada em pavão, Oxum voa até o deus maior, para suplicar ajuda. Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que queima-lhe, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Olodumare.
Indignada por se perceber excluída da reunião de orixás masculinos, Oxum torna estéreis todas as mulheres até que ela seja convidada para o encontro. Uma demonstração de que com ela é assim: bateu, levou.
Não tolera o que considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à força, com toque feminino de bondade, é assim o jeito dessa deusa-heroína.
Sensível à condição de fraqueza, Oxum se dispõe a aliviar o sofrimento alheio. Assim ela o faz quando Oxalá tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Oxum vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence.
Ela é adorada por Oxalá.
A deusa do amor parte com um ebó até Olodumare, para que não haja mais seca na Terra. No caminho ela não hesita em repartir os ingredientes da oferenda com o velho Obatalá e as crianças que encontra, e mesmo assim alcança seu objetivo pela comoção de Olodumare.
Com grande compaixão, Oxum intercede junto a Olodumare para que ele ressuscite Obaluaiê, em troca do doce mel da bela orixá. E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai.
Oxum cuida da recém-nascida, a querida Oiá.
Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Oxum satisfaz seu gosto pelo luxo.
Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida.Vai à frente da casa de Oxalá e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna desejada para então calar-se.
E assim Oxum torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá femino) jamais o fora".
A vontade de conhecer os segredos do destino faz com que Oxum, esperta que é, coloque seu poder de atração sexual em acordos para esse fim. Ela é especialista no toma-lá-dá-cá. É desse modo que aprende a arte da adivinhação com Exu, e as roupas de Obatalá, e as vestes do "Senhor do Pano Branco" pelo segredo do Ifá.
Assim Oxum se torna senhora do jogo de búzios.
Beleza, agilidade e astúcia são ingredientes do sucesso deste orixá.
No amor Oxum é ardorosa, de tão formosa e quente que é. Oxum luta para conquistar o amor de Xangô e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado.
Ela livra seu querido Oxóssi do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu.
Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Xangô e Ogum, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela.
Xangô é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Oxum quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor.
Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada. Ela adora enganar Obá. Oxum induz Obá a cortar a própria orelha para cozinhar e servir para Xangô, dizendo ser o prato preferido do marido, que na verdade fica enojado e enfurecido.
Ela também engana Eleguá que, a serviço de Obá para fazer um sacrifício, corta erradamente o rabo do cavalo de Xangô.
Outra vez Obá queria agradar seu marido, mas acaba odiada por ele. Oxum definitivamente quer o fracasso de quem considera rival.
Foi de Oxum a delicada missão dada por Olodumare de religar o orum (o céu) ao aiê (a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens.
Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Oxum veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos.
Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de ecodidé (pena de um passáro sabrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás.
E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês.
Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé. Os mitos da Oxum mostram o quão múltipla é sua personalidade. (Prandi, 1997).

Trecho extraído e adaptado de: PRANDI, Reginaldo - Mitologia de Orixás, Mitos afro-americanos reunidos e recontados

Linha dos Boiadeiros


São espíritos hiperativos que atuam como refreadores do baixo astral, e são aguerridos, demandadores e rigorosos quando tratam com espíritos trevosos.

O símbolo dos boiadeiros são o laço e chicote que, emverdade, são suas armas espirituais e são verdadeiros mistérios, tal como são as espadas, as flechas e outras"armas" usadas pelos espíritos que atuam como refreadores das investidas das hostes sombrias formadas por espíritos do baixo astral.

Da mesma maneira que os pretos-velhos representam ahumildade, boiadeiros representam a força de vontade,a liberdade e a determinação que existe no homem docampo e sua necessidade de conviver com a natureza eos animais, sempre de forma simples, mas com umaforça e fé muito grande. São habilidosos e valentes.

São regidos por Iansã-Oyá e Ogum, tendo recebido damesma autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada, onde levam cada boi(espíritos) para o seu destino, e trazem os boisque se desgarram (obsessores, kiumbas e etc) devolta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).

Suas maiores funções não as consultas como as dos pretos-velhos, nem os passes e as receitas de remédios como os caboclos, e sim o "dispersar de energias" aderidaaos corpos, paredes e objetos. É de extrema importância esta função, pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, os boiadeiros "sempre" estarão atentos à qualquer alteração de energia do local (entrada de espíritos negativos).

Portanto quando bradam em tom de ordem como se estivessem laçando seu gado, estão na verdade ordenando os espíritos que entraram no local a se retirarem, assim "limpam" o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações, já que as presenças desses espíritos muitas vezes interferem nas consultas de médiuns conscientes.
Esses espíritos atendem os boiadeiros pela demonstraçãode coragem que os mesmos lhe passam e são levados poreles para locais próprios de doutrina. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.

Outra grande função de um boiadeiro e manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns dacasa ou consulentes.

Eles nos ensinam a força que o trabalho tem e que oprincipal elemento de sua magia é a força de vontade,f azendo assim que consigamos uma vida melhor e farta.

É uma linha poderosa e muito numerosa no mundo espiritual e seus caboclos atuam nas sete linhas de Umbanda, e são descritos como Caboclos da Lei.


Atabaques : Dentro da ritualistica de Umbanda existeum elemento de grande importância que é a Curimba formadapor médiuns que se dedicam ao estudo dos cânticos ritualísticos.
Há uma grande influência dos boiadeiros no trabalho da curimba, pois eles regem suas forças e fundamentos.
Os atabaques são formados basicamente por três elementos da natureza: Animal (couro) , Vegetal (madeira), Mineral (ferragens). Estes elementos por sua vez encontram-se no ambiente (reino) natural destas entidades e a força da curimba no terreiro está justamente em conseguir dissipar as energias negativas, inibir a ação de obsessores e desagregar miasmas e larvas astrais que estejam impregnados no ambiente de trabalho conseguindo com isso um êxito maior.


Ervas de Boiadeiro: Alecrim do Campo, Capim-Manteiga,Cravo da Índia, Folha de Manga, Gravata e Chapéu de Couro.


Saudação: Getuá Seu Boiadeiro!


Oração a Boiadeiro


Ó Deus salve o oratório (bis)

Onde Deus fez sua morada, oiá meu Deus

Onde Deus fez sua morada , oiá

Onde mora o cálice bento (bis)

E a hóstia consagrada oiá meu Deus

E a hóstia consagrada oiá

De Jessé nasceu a vara (bis)

Da vara nasceu a flor oiá meu Deus

Da vara nasceu a flor oiá

E da flor nasceu Maria (bis)

De Maria o salvador oiá meu Deus

De Maria o salvador oiá.

Descrição de uma gira de Boiadeiros e Baianos



Baianos e Boiadeiros


Em virtude das influências dos rituais africanos, mais especificamente do Candomblé, muitos terreiros umbandistas associam a manifestação do Povo da Bahia com a manifestação dos Boiadeiros. Os boiadeiros no ritual do Candomblé representam a palavra do Orixá, que não fala em sua manifestação e participa das danças em ocasiões especiais com o nome de xirê. Cabe aos boiadeiros e êres (crianças), trazer os recados dos Orixás, e auxiliar na execução de diversos rituais de purificação. Também auxiliam os Orixás, no atendimento de pessoas necessitadas do auxílio espiritual ou temporal. Geralmente são espíritos que se apresentam com forte sotaque baiano ou nordestino, e se paramentam com roupas de couro que os sertanejos usam nas cantigas do nordeste.
Na Umbanda o Povo da Bahia, tanto é a manifestação de espíritos nordestinos (entidades femininas e masculinas) ou como os boiadeiros do Candomblé, e também pode se referir aos Pretos Velhos da Bahia (entidades femininas e masculinas).
Em nossa Fraternidade, o Povo da Bahia, se apresenta com os espíritos nordestinos, e algumas vezes são sertanejos da caatinga. E conforme a definição de povo na hierarquia divina, são espíritos que se comunicam de forma descontraída e alegre, para conseguir a simpatia e confiança das pessoas. Apesar de sorridentes, são espíritos que travam os piores combates contra energias perversas e destruidoras. São vigilantes que executam as tarefas de zelar dos locais de trabalho espiritual, retirando as cargas negativas presentes através de suas danças e cantos. Em algumas oportunidades são rudes e assim chamam a atenção, para que possam expulsar espíritos perigosos e malfeitores, como aqueles que promovem a mistificação.
Quanto aos Boiadeiros, pertencem às vibrações da hierarquia chamada Banda. São os aspirantes ao trabalho dos Caboclos. Muitos médiuns se confundem com as sensações que eles emanam durante suas incorporações, impedindo assim a manifestação desses espíritos.
Seguindo o raciocínio que a extensão territorial de nosso país é imensa, e que em várias partes dele existem diferentes manifestações culturais. Podemos afirmar que o mundo todo, com seus usos e costumes influenciaram o povo brasileiro nesses quinhentos anos.

Os Boiadeiros possuem pontos cantados que são universais, pois falam da função ou o trabalho dos vaqueiros. Porém em alguns são mencionados aqueles que vêm de Minas, portanto são mineiros. Outros pontos falam do gaúcho e também do pantaneiro mato-grossense, usando músicas folclóricas das regiões correspondentes.
Todos os Boiadeiros falam muito pouco, ou raramente falam. Durante o seu trabalho fazem o gesto de laçar como se estivesse segurando uma corda. Esse gestual indica que está retirando do local todos os espíritos perdidos, encaminhando-os para seu justo destino no aprendizado pela evolução.
Tanto os Baianos e os Boiadeiros, trabalham para Linha que acompanha o seu médium.
Por exemplo: para o filho de Oxosse o seu Baiano protetor responde para Oxosse. Isso quer dizer que todos os seus trabalhos serão acompanhados das ervas, cor de vela, dia da semana e local para oferendas referentes à Linha de Oxosse.
Saudação para os Baianos - Salve o Povo da Bahia! ou É pra Bahia Meu Pai !

Bebida - Cerveja ; Batida de Coco

Comida oferecida - Farofas de diversos tipos; Cuscus etc.Utilizam ervas para passes, cada entidade com suas preferências.


A saudação para os Boiadeiros pode ser igual à do Candomblé - Xetro á Ou simplesmente - Salve o Boiadeiro!

As bebidas oferecidas variam conforme a manifestação:

Boiadeiro nordestino - cerveja, cachaça , os dois em coité

Gaúcho - chimarrão em cuia própria

Pantaneiro - tererê , mate frio em chifre.


Em nossa Fraternidade evitamos bebidas com alto teor alcoólico oferecendo alternativas, deixando as bebidas de preferência para as oferendas em local e data determinados.

As Fronteiras do culto aos Orixas

A longevidade do culto aos Òrìsás não tem fornecido as condições essenciais de garante de equidade de tratamento legal e social. Há verdadeiras fronteiras e regidas aos sacerdotes e devotos de tão milenar culto, quer em África (ponto de origem) quer no Brasil, quer mesmo em Portugal.
A crença animista e panteísta do culto aos Òrìsás, a incorporação, a estética berrante e os sistemas adivinhatórios, têm constituído uma complexa barreira entre a prevalência do culto e a discriminação generalizada.
Convencionalmente atribuísse às sociedades escravocratas, de vivência religiosa cristã-católica, a responsabilidade da segregação e discriminação do culto aos antigos deuses/semi-deuses africanos. A organização dos negros em confrarias religiosas do tipo católico, o missionarismo dos sacerdotes católicos e o medo face ao desconhecido, serviram durante décadas para fecundar a marginalização que perdurou até hoje, composta de todos os mais negativos adjectivos.
Todavia, as fronteiras erguem-se em todas as direcções. Em África, o culto aos Òrìsás sofre também de um estigma social extremamente forte. Embora seja considerada a mãe de todas as crenças, o legado tradicional e uma herança cultural, o culto tem no fulguroso islamismo e no crescente cristianismo importantes segregadores e estigmatizadores sociais.
No Brasil, à medida que o catolicismo vai perdendo expressão e o poder central vai afirmando o seu laicismo positivo – através de medidas de reconhecimento da pluralidade religiosa e de compensação da dívida histórica face ao culto aos Òrìsás (ali chamado de Candomblé) – crescem entre as novas expressões religiosas o mais profundo preconceito, perigoso e ilegal ataque à religião dos Òrìsás. As missões evangélicas, sobre todas as suas formas, acusam a herança religiosa africana de ser responsável pela pobreza e criminalidade no Brasil. Enquanto crença de origem africana apresenta-se, para esses, como o verdadeiro anti-cristo, esquecendo e renegando o papel vital das comunidades religiosas do Candomblé na integração comunitária, no combate à pobreza e à fome. A própria identidade das missões evangélicas assenta muito na oposição ao Candomblé. Sem o culto aos antigos deuses dos escravos, os evangélicos perderiam parte da sua força e mensagem – marcada por um fundamentalismo de ataque.
Em Portugal, o culto aos Òrìsás começa a disseminar-se, através dos mais diversos canais sociais e mediáticos. A televisão, através das telenovelas, abriu a porta à curiosidade e ao sensorial. O crescendo fluxo de trocas simbólicas entre Portugal e o Brasil acelerou o processo. Todavia, devido a uma ainda existente moralidade e convencional ética/estética católica, o culto aos Òrìsás ganha maior relevo através da Umbanda, religião brasileira por excelência, e promotora do sincretismo afro-católico. Ademais, a própria religião auto-estigmatiza-se, através de um sem número de novos sacerdotes, que não tendo completado os ritos iniciáticos ou até mesmo não tendo sido iniciados no culto, se afirmam megafonicamente como pais e mães-de-santo. Institucionalmente, em Portugal, a fronteira será quebrada quando o governo português se dispuser a oficializar os cultos afro-brasileiros, e lhes conferir estatuto de igualdade face às demais religiões. Tal só ocorrerá quando o Ocidente deixar de centrar o diálogo intercultural e inter-religioso na dicotomia cristianismo/islamismo.

(pré-publicação de artigo da Revista Sem Correntes)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Boiadeiro da Estrada

Boiadeiro Da Estrada

Sou pedra no seu caminho
Viajo muito sozinho pelas noites
Madrugadas
Sou rei do gado festejo na lua
Guardo os seus beijos
Sou boiadeiro da estrada
Acordo sempre sorrindo
Sem destino vou seguindo
Pensando na minha amada
Às vezes estou chorando
Lembrando me apaixonando
Quanto amor na madrugada
Já guardei o meu cavalo e meu
Violão também
Já tomei milhões de pinga
Para esquecer o meu bem
Pra esquecer do passado do
Meu amor sem ninguém
Pra esquecer do passado do
Meu amor sem ninguém
Sou rei do gado sou vaqueiro
Sou peão
Passa a fronteira dentro do meu coração
Sou terra firme dediquei-me na canção
Será que a vida é amor sem ter perdão

Campineiro Rei



CAMPINEIRO REI

Boiadeiro


Apesar do deserto em que se transformou a São Vicente, nas baias ainda o cheiro estrume; a mistura dos suores boiadeiros com a respiração dos animais; o capim molhado pelas chuvaradas quase diárias. O pasto não há mais, é terra empobrecida, moradia de ervas daninhas. O cultivo de hortênsias é morto e tudo o que existe são, quando muito, flores brutas, deseducadas, sem beleza. Ociosa contra a vontade, a roda d'água como que resmunga silêncios, mau humor. Alguém interpretasse seus protestos mudos, veria: a qualquer instante retornará ao trabalho, assim que a antiga cascata, barulhenta de contentamento, nascer outra vez do interior das pedras. Enquanto isso, lá no fundo da estrebaria, um homem ainda existe. Enxergando os cenários real e imaginário, apesar dos olhos. Respiração embaçada, pálpebras querendo adormecer para sempre.

Nem se pode afirmar aquele caminho fosse uma estrada honesta: antes, trilha aberta na campina já sem personalidade, tanto mato mastigando as margens da antiga ligação entre os vinte e poucos quilômetros existentes entre a cidadezinha e a porteira. Contudo, um sujeito envelhecido demais segue, exato o cansaço personificado num boiadeiro. Já sem o inseparável alazão que há muitas curvas atrás marcara encontro com a morte, após uma vida enorme e cúmplice e sacrificada. Não mais domestica burros xucros, tampouco derruba bois brabos pelos chifres. Nem por isso abandona o chapéu de couro e toda a indumentária típica do ofício. Que não exerce faz tempo. Naquela época era um satisfeito na vida, homem pleno: fedendo a excrementos bovinos; constantes cigarros de fumo desfiado e envolto em palha; aguardente no fim da labuta à noitinha, prosa adernando à esquerda e à direita como bêbada estivesse; as gargalhadas dos manos tão exaustos quanto felizes. Por isso insiste arrastar os pés gretados naquela terra batida que o empurra para a velha fazenda. Quer abraçar novamente, quem sabe pela última vez, seu berço e destino. Antes que a terçã devore suas forças. E as tosses expulsem o restolho de sangue fatigado ainda existente nas artérias do corpo. Corpo? Eufemismo... Melhor rasgar as máscaras do verbo: carcaça viva. Teimosa em manter-se ereta. E é um pé ferido após o outro, lentos sob a noite, marcando descalços o chão amarelo.

Aperta com carinho o cigarro de palha entre os dedos. Respiração difícil. Fumaças, muitas, sobem. Mas não evaporam: como que tangidas por boiadeiros invisíveis, atravessam os janelões da estrebaria e o telhado sem quase nenhuma telha, por onde mergulha um luar azul, oblíquo. Morto em pé, senta. Atira longe o bornal magro. Encosta todas as dores, os músculos exauridos, os ossos, nas tábuas arruinadas da parede lá no fundo da construção. Escarra. Um fio de saliva pende do lábio inferior, querendo fugir. Sede medonha, de quem precisa beber o mundo. Apalpa algibeiras com saudades da santinha, parceiros desde quando se perdeu, molecote, nas brenhas da floresta vizinha à São Vicente, procurando encontrar o primeiro bezerro desgarrado de sua vida. Bolsos vazios, entretanto: ela, também ela, mesmo santa, me disse até nunca mais. Na certa apeou do gibão lá na estrada, esqueceu minha pessoa sem reza que dê jeito. Também... essa pá de morte chegando perto demais... Quantas horas ainda tenho nas mãos? Na verdade verdadeira isso pouco importa agora e na hora de nossa morte. Amém. Resignado, lança fumaças grossas que engolem, névoa, todo o ambiente. Enquanto as janelas se fecham, mansas. Com aquela mesma sabedoria disfarçada de velhinhas simpáticas quando estas em suas casinhas abrem calmas e risonhas as janelas que sempre cumprimentam varandas e terreiros.

A lua parece enfastiada, sem muita vida, mas ainda encontra ânimo para alumiar, luminária característica dos palcos teatrais, cena que aos poucos e mal definida vai se construindo a alguns metros diante do cristalino direito, neblinado pela catarata: um boiadeiro, menino que só, adentra a estrebaria conduzindo novilhos; lá fora é sol bastante para mangalargas tranqüilos no pasto, imenso e gramíneo mar; dois cabras à toa encostados no mata-burro, outros tantos aboiando três, quatro, manadas; mãos mulheres aguando hortênsias; brincadeiras de crianças com os perdigueiros; braçais e o debulho no paiol onde o milho diariamente os espera; uma falange de gansos passa grasnando, na mesma afobação de quem furta; a roda d'água gira feliz, com seu ritmo compassado e uma certa música que aplaude a vida contagiante da São Vicente. Imagens que se repetem iguais na mesma seqüência, videoteipe infinito. Contudo, não usasse também os olhos do devaneio e da lembrança, enxergaria sem muita nitidez: os nevoeiros do cigarro de palha e do olho enfermo são espessos demais para permitir.

Agora resta um nada, se a memória não o engana. Mais outra curva, depois aquele antigo córrego tão filete d'água que nunca mereceu ponte. O sol, encerrado o expediente no mundo, fecha as pálpebras: o firmamento veste um longo preto, vestido de noite. Existe uma lua cortejada por estrelas apaixonadas, cada qual pretendendo-se mais diamante. Constelações, criaturas femininas, são mesmo assim... brincos pingentes que parecem balançar na ventania gelada que sopra de todos os lados do planeta. A mesma friagem que, até certo ponto, cauteriza dores musculares e as provocadas pelos ferimentos. Os machucados de aqui dentro (oxalá eu tivesse sabença pra entender todos eles) até nem doem tanto, de tanto que é boniteza esse céu piscando feliz pra mim...

Boiadeiro velho e sem préstimo cuja vontade única na vida é morrer com algum sossego, a beleza da noite o faz lembrar da primeira e inesquecível imagem que possui guardada de sua própria pessoa, quando ainda criança: sentado num mourão de cerca, ele observava, boquiaberto, Campineiro domar égua alazã arredia por demais. Os gritos, a firmeza no laço, o animal escoiceando até cansar, a força física teoricamente impossível àquele corpo magro. Aí chegou perto de mim, suarento, olhar secava qualquer pimenteira, a cara franzida. Cruzei os braços. Encarei sério e com medo a pessoa mais benquista de toda São Vicente, logo depois da Sinhá. Por quanto tempo ficamos medindo a gente? Complicado saber, tenho cabeça fraquejada pra contas. Só me perguntava quem de nós ia arredar os olhos primeiro. Eu é que não! No final ele riu um bocado da nossa peleja sem palavras e disse aos companheiros: homem, seu menino! E não é bem verdade que esse cabôco miúdo aqui vai ser cabra-macho?! Podem escrevinhar! Daqueles batutas que esbofeteiam a cara de touro metido a brabo, e o bichão, com chifre e tudo, esconde a rabiola entre as pernas, igualzinho que nem cachorro frouxo. Ouça, moleque: em nome do boiadeiro raçudo que você vai ser, eu te batizo Campineiro Rei. Vai me substituir à altura, tenho certeza. E estamos conversados. Agora cama, que a noite hoje está agalopada... falta uma migalha qualquer de tempo pra ela apear por essas bandas. Volte amanhã, e depois, e depois... e sempre. Vou ensinando manso as espertezas da labuta. Só tem uma coisa que não posso dar ensinamento: a sua cantiga. Cada um desses aí ó, bons no laço, tem uma. Mais logo, quando for dormir, aconselho moer o bestunto na modinha que vai te seguir por toda a vida. Desça da cerca. Agora vá. Lugar pra menino quando o céu está assim todo belezura de estrelas é debaixo das cobertas, a cabeça no travesseiro e as idéias cavalgando outras estrelas, as do pensamento... Oxente!... Êta ferro, que um palavrório arretado de bonito trepou em mim de jeito hoje, cabroeira!...

A brasa do cigarro adormece lenta, fazendo companhia à secura da sozinhez, à evaporação daquela vida com cheiro de capim e estrume que estava ali há não faz muito. Imagens, sons da São Vicente... para onde? A guimba ele esmaga entre as mãos trêmulas, e farrapos do fumo escapam pelos dedos e repousam no chão. Querendo brotar? É poeira de lama seca, a terra, contudo. Dói os olhos a febre incandescente, ruminando o corpo rarefeito. Paredes erguidas com tábuas irregulares, lazarentas, vêm abaixo, um segundo após o outro. Uma a uma. Como pedras dominós, caem para o lado externo da estrutura. Desabam sobre o terreno ocupado pelo abandono. Os caibros, que um dia foram leito para telhas serenas, porém, não: continuam. Pilastras de madeira sustentam. A lua, esposa que reconhece não haver mais espaço para exibir ao amado sua feminilidade, entristece e murcha, se liquefaz em lágrimas: chuvisca. Conseqüência, estrelas infelizes por verem destronada a rainha do céu noturno, fogem para a Terra, em disfarces pirilampos. Súditas, órfãs, apaixonadas. Aos milhares, voam em fila mais ou menos indiana a partir do horizonte. Seguem em procissão, velas acessas que piscam alternadas. A caminho do corpo boiadeiro, alquebrado corpo, quase falecido e quase vivo corpo.

Não obstante a catarata, ilumina-se com o próprio sorriso ao enxergar, logo após a curva, a fazenda. O negrume mal transgredido pela claridade escassa da lua torna difícil cores e pormenores das construções capengas existentes atrás da porteira semiaberta, carcomida; o pasto expulso pelo matagal; o paiol tão ferido que irreconhecível; a casa-grande é um esforço heróico em manter-se digna, colonial, nariz em pé como nos tempos de ontem; a estrebaria destelhada. Entretanto, os dois ipês, que jamais negavam sorrisos a quem visitante do latifúndio, conservam-se flores, lindos. Quanta boniteza, Santinha! Ato num repente: joelhos se machucam nos pedregulhos do chão, persigna-se. Emoções, risca no pó do caminho uma reza querida. Outra crise de tosse, agora acompanhada de muita dor no tórax. Levanta-se, ultrapassa a porteira em direção à estrebaria para morrer em paz. Entra. Apóia as costas na parede. Deixa escorrer o corpo. Senta. Põe para funcionar o cigarro de palha, espécie de amigo.

Cadáver ainda não morto por completo, uns sangues arteriais vêm à boca em golfadas. E o mundo é um planeta vermelho. Semicerra as pálpebras, rindo satisfeito porque a vida lhe diz adeus. Ainda existe tempo para enxergar os vaga-lumes se aproximando velozes. A cabeça pende ligeiramente para a esquerda. Uma lágrima do olho débil escorrega, inunda a íris vizinha que aos poucos embranquece... embranquece... encatarata. Agora dois, os olhos leitosos não vêm os besourinhos iluminados pousarem todos no corpo que, num último fôlego canta a velha toada composta por ele quando estava aprendendo a função boiadeira:

_ Eu vou tanger minha boiada entre as estrelas do céu...
Cumprimentar minha sinhá com o meu chapéu...
Que é de couro sim...
Sou Campineiro Rei...

Pensamento de Boiadeiro


Prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar. Eu venho lá do sertão, um sertão longínquo, diferente, uma terra do nunca, longe do equilíbrio, além das brumas de uma Avalon que para muitos não existe. E o que digo pode não lhe agradar. Aprendi a dizer não, não à estupidez, não à normose, o normal dentro da neurose. Aprendi a ver a morte sem chorar, a morte física e a dos hábitos caducos. E penso que é isso em mim que muito lhe incomoda, já que há muita coisa fora do lugar e eu vivo prá consertar. Afinal, por que estou onde estou? Percebi a marcha da boiada e saquei que nela já fui mestre, doutor e rei, seguindo os mornos e insossos com um belo cabresto que ver não ousei. Também reconheço que já fui boiadeiro com laço firme e braço forte. Naquela ótica, filhos, alunos e colegas mais jovens eram feitos para obedecer sem direito a questionamentos. Havia aprendido bem com os governos dos anos 60 e 70. Pelos anos de estudo, idade e títulos, eu era o dono do conhecimento, guia e sócio da boiada. Aclamado, segurei muito gado e muita gente durante a vida metódica e castrada, ensinando o único caminho certo, aquele de entrar um dia no matadouro com orgulho e marca registrada. Seguia como num sonho, ou pesadelo, onde boiadeiro era um rei. Mas o tempo foi passando, o mundo foi rodando, as visões se clareando, até que um dia acordei! Então, caíram os cabrestos, os tapumes invisíveis a olho nu, e não pude mais seguir altivo, valente, dono de gado e gente. Afinal, gado a gente tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente! Lembrei-me da Bell, cujos algozes ainda se chafurdam nos tempos de boiadeiro-rei, esquecendo-se dos fortes ecos da pradaria e dos bumerangues energéticos que fazem grandes estragos na volta imprevisível em meio à tempestade e à ventania. Vejo que há ainda muitos que se dizem mestres e doutores que seguem seus sonhos de boiadeiros-rei, ferrando, engordando e matando quem ousa desafiar as cartilhas amareladas, pregando que a ciência é definida pelo conjunto de lambanças e abusos onde se lambuzam. Nas reuniões, primam pelas falácias e pelo inútil. Na Física, a boa é só a clássica, onde observador não interfere no observado, onde aluno é só objeto e as experiências que valem só ocorrem com equipamentos do mundo ideal e irreal. Segundo os emissários de laço firme e braço forte, quem deixa esses maravilhosos equipamentos de lado e leva os alunos para práticas abertas à natureza, é ignorante e não entende de boiada. Física Quântica na saúde e na vida é pura bobagem! É como Avalon ou o gato de Schrodinger que, na prática, não existem. Para esses boiadeiros-rei, é preciso ser sério na ciência, mesmo que morto. O morto sério, moralista e castrado, nunca acha que está morto. Para os inúmeros boiadeiros-rei, o “até que um dia acordei” ainda não chegou. E, olha, se você não concordar, não posso me desculpar, pois não canto prá enganar. Vou pegar minha viola, deixar você de lado e cantar noutro lugar. Fica você com a mesmice que lhe é conhecida, o engodo do caminho único, insistindo em florear e bendizer o matadouro, seu fúnebre objetivo final. Quanto a mim, vou para lugares onde, como diz F. Capra, até as pedras ouvem. Ficaria feliz, entretanto, se você se questionasse, mesmo que nas sombras da noite, como fez Nicodemos. Ah, se você quisesse ir até mais longe do que eu, construindo um reino que não tem rei! Seria uma disparada na sua espiral evolutiva. Quer vir? Quem sabe um dia quando você, de verdade, entender a mensagem.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ogum na Umbanda

Ogum na Umbanda é São Jorge, ou como os umbandistas chamam São Jorge Guerreiro. As lendas de S. Jorge remontam da época das Cruzadas; sua armadura foi levada da Capadócia para a Inglaterra, de onde é padroeiro.
Segundo as lendas, ele teria sido um destemido guerreiro, um vencedor de batalhas, de dragões e protetor de fracos e oprimidos.
Por sua personalidade forte de guerreiro, sendo conhecido pelos seus fiéis como "santo forte", "vencedor de demandas", "general da Umbanda", etc.
São Jorge é extremamente popular e, através de sua sincretização com Ogum, tornou-se o padroeiro da guerra e da tecnologia, simbolizando todo aquele que trabalha nas linhas de frente, abrindo novos caminhos e alargando fronteiras.
É fácil entender o porque da grandeza de Ogum, já que ele foi o escolhido, pelo Criador, para ser o comandante de todos os Imalés. Ogum é o rei do ferro e protetor de todos os que venham a trabalhar com instrumentos metálicos. Conhecido e festejado na África como padroeiro da Agricultura.
Na Umbanda, Ogum continua comandante (Tata) e guerreiro invencível. Se na África seus sete nomes coincidem com os das sete cidades que formavam o reino de Irê, na Umbanda eles se tornaram as falanges que seguem :
a) Ogum Beira-Mar - age nas orlas marítimas;
b) Ogum Yara - age nos rios;
c) Ogum Rompe-Mato - age nas matas;
d) Ogum Malê - age contra todo o mal;
e) Ogum Megê - age sobre as almas;
f) Ogum De Lei - age junto com a justiça;
g) Ogum de Ronda - age nas ruas, do lado de fora das porteiras;
... e pra cada falange, atuando em uma região ou em conjunto com alguma força.
A incorporação de Ogum é fácil de se perceber:
Seus filhos tomam uma forma militar com os ombros retos, peito estufado, andar ereto e com a mão ou dedo esticado acima da cabeça.
Cor: Vermelho e branco
Planta: Espada de São Jorge e palmas brancas e vermelhas
Guia: contas de cristal vermelha e branca, dependendo da falange podem ter maior predominância de uma cor do que de outra.
Local: Estradas, limites, beira de trilhos do trem.
Saudação: Ogum Inhê! Patacori Ogum!

Orixás, A Quem Pertence ?



Os Orixás pertencem a nós ou nós é que pertencemos a Eles? Temos a posse de seu culto e o direito de reclamar esta posse, a quem queira cultua-los fora de nossa realidade? Ou será que Eles, como Divindades, estão muito acima de nossos egos e vaidades? Estão muito acima do direito de posse? Algum tempo atrás acompanhei uma discussão, sobre o fato de se cultuar Yemanjá nos rituais de Wica , a Sacerdotisa Wica defendia que Yemanjá é a Deusa, enquanto outras Sacerdotisas defendiam que a Deusa não poderia ser Afro e Umbandistas acharam um absurdo "levar" Yemanjá para um ritual Wica . Sabemos que Yemanjá , ao atender alguém, não lhe pergunta qual a sua religião, logo a Sacerdotisa que se entenda com Yemanjá . Já imaginaram o Papa reclamar o direito exclusivo em cultuar e amar a Jesus e os demais Santos Católicos, todas as outras religiões Cristãs deveriam " devolve-los " para Roma e nós Umbandistas teríamos que nos desfazer de nosso sincretismo com os Santos e inclusive seriamos acusados de deturpar o culto aos mesmos, já que somamos a eles os valores " afro-amerindios ". Ouvimos falar que certos Orixás não são da Umbanda , bem de quem eles são então? Divindades têm donos? Podem alguns Orixás ser de Umbanda e outros estarem nela por engano? Ao que sabemos todos Orixás tem a mesma Origem Yorubá , a mesma origem nos Cultos de Nação, onde na África cada Nação tinha o culto voltado ao seu Orixá, considerado o ancestral de todos ali. Mas o Orixá tem vida própria, ele é Divindade, é um Trono de Deus, não precisa de nós para existir e sim nós é que precisamos deles para existir, mesmo que muitos de nós não o saibamos. Para atender as necessidades de diferentes grupos sócio-culturais surgem novas religiões, pois a cada dia surgem novas realidades, mas é sempre o mesmo Deus e claro as mesmas Divindades que ressurgem . Às vezes com nomes diferentes e outras vezes com os mesmos nomes. Os Orixás aparecem na Umbanda , mas já dentro de um outro contexto, diferente dos Cultos de Nação, de outra forma , pois é uma religião diferente. O " preto-vélho " (que para os Cultos de Nação é " egum " e não incorpora no mesmo "chão" que o Orixá ) , nos apresenta os Orixás, todos quanto ele conhece no Astral, todos quanto ele cultua em espírito na " Aruanda ". E aqui na Terra, na matéria, ainda se discute se estes Orixás são de Umbanda, que duvida podemos ter? Se quem os apresenta a nós é o mesmo "preto-velho", não há duvidas, pois somos filhos destes Orixás. O filho reconhece o Pai e o Pai reconhece o filho. Não teria o filho de mudar de religião, para continuar com o mesmo Pai ou Mãe, já que uma vez reconhecida à paternidade divina dos Orixás, pouco importa o que outros digam, o que importa é que ali ele foi apresentado ao filho. Apesar de termos um Pai e Mãe de Cabeça, somos filhos de todos Orixás !!!


Por: Alexandre Cumino

Orixás de Frente, Ancestral e Adjunto


Orixá Ancestral é aquele que magnetizou o ser assim que este foi gerado por Deus e o distinguiu com sua qualidade original e natureza íntima,imutável e eterna.Poderemos reencarnar mil vezes e sob as mais diversas irradiações, e nunca mudará nossa natureza íntima.

...Orixá de frente é aquele que rege a atual encarnação do ser e o conduz numa direção no qual o ser absorverá sua qualidade e a incorporará às suas faculdades, abrindo-lhes novos campos de atuação e crescimento interno permanente.

...Orixá Adjunto é aquele que forma par com o Orixá de frente, apassivando ou estimulando o ser, sempre visando ao seu equilíbrio íntimo e crescimento interno permanente.


...A cada encarnação, há troca de regência de encarnação.E nessa troca, os seres vão evoluindo e desenvolvendo faculdades relativas a todos os Orixás.
...Na ancestralidade, todo ser macho é filho de um Orixá masculino e todo ser fêmea é filha de um Orixá feminino.
...Existem sete naturezas masculinas e sete naturezas femininas tão marcantes que é impossível ao bom observador não vê-las nas pessoas.
...Podemos identificar a ancestralidade de alguém observando o olhar, as feições, os traços, os gestos, a postura etc., pois estes sinais são oriundos da natureza íntima do ser, apassivada pela regência de encarnação, mas não anulada por ela.
...Podemos identificar o Orixá Adjunto nos gestos e nas iniciativas das pessoas, já que é por intermédio do emocional que ele atua.
Parte do texto retirado do Livro: "Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada "
Obra de Rubens Saraceni.

A Entidade Tem Que Dizer Tudo?


Maria Padilha das Almas
Mensagem recebida em 16/04/08
Médium Mãe Vanessa Cabral
Dirigente do Templo Universalista Pena Branca
(Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery)

Sempre escuto isso: “A Entidade tem que falar tudo!” E sempre digo isso: “Claro que não!”
Até quando meus filhos, vocês vão fingir que não entendem? Porquê “burros” vocês não são! Não vêem que não somos os donos da verdade? A verdade está dentro de cada um de vocês e Deus independe da verdade ou da mentira... Ele é onisciente, ou seja, tudo só Ele o sabe!
Já olharam para si mesmos, procurando identificar o quanto há de orgulho neste pensamento? É como se vocês se achassem mais importantes do que os outros e chegam até pensar que, nós todos, espíritos em evolução, tivéssemos a obrigação de dizer o que vocês por covardia não falam! Mas falam que nós, Exus e Pomba Giras, não seguramos a língua dentro da boca! E vocês? Basta virarem as costas pra soltarem a língua também!
Não somos iguais a essas “máquinas” de fazer dinheiro, que soltam uma “bolada” pra chamar a atenção do mundo inteiro! E repito, pra chamar a atenção do mundo inteiro, assim: “Joguem, joguem mais, cada vez mais”
Jogar? Só se for jogar fora, iah, há, há... E enquanto isso, nem percebem que o que vocês têm é o que realmente tem valor! Passam uma vida inteira tentando viver que nem um doutor! E acabam vivendo que nem um computador! Iah, há, há, joga o laço seu Zé, no filho de pouca fé!
Já devem estar pensando: “Nós todos, espíritos em evolução, mas e os espíritos de luz?” Iah, há, há... Nós todos, espíritos em evolução sim, pois a escuridão só existe no pensamento dos filhos! Se todos caminham para a eternidade, só pode haver Luz, pois na escuridão ninguém caminha pra lugar algum, iah, há, há...!
Nos olhos de quem vê, é tiro na certa...
Nos olhos de quem crê, é bala que adoça a alma e logo enxerga!