A longevidade do culto aos Òrìsás não tem fornecido as condições essenciais de garante de equidade de tratamento legal e social. Há verdadeiras fronteiras e regidas aos sacerdotes e devotos de tão milenar culto, quer em África (ponto de origem) quer no Brasil, quer mesmo em Portugal.
A crença animista e panteísta do culto aos Òrìsás, a incorporação, a estética berrante e os sistemas adivinhatórios, têm constituído uma complexa barreira entre a prevalência do culto e a discriminação generalizada.
Convencionalmente atribuísse às sociedades escravocratas, de vivência religiosa cristã-católica, a responsabilidade da segregação e discriminação do culto aos antigos deuses/semi-deuses africanos. A organização dos negros em confrarias religiosas do tipo católico, o missionarismo dos sacerdotes católicos e o medo face ao desconhecido, serviram durante décadas para fecundar a marginalização que perdurou até hoje, composta de todos os mais negativos adjectivos.
Todavia, as fronteiras erguem-se em todas as direcções. Em África, o culto aos Òrìsás sofre também de um estigma social extremamente forte. Embora seja considerada a mãe de todas as crenças, o legado tradicional e uma herança cultural, o culto tem no fulguroso islamismo e no crescente cristianismo importantes segregadores e estigmatizadores sociais.
No Brasil, à medida que o catolicismo vai perdendo expressão e o poder central vai afirmando o seu laicismo positivo – através de medidas de reconhecimento da pluralidade religiosa e de compensação da dívida histórica face ao culto aos Òrìsás (ali chamado de Candomblé) – crescem entre as novas expressões religiosas o mais profundo preconceito, perigoso e ilegal ataque à religião dos Òrìsás. As missões evangélicas, sobre todas as suas formas, acusam a herança religiosa africana de ser responsável pela pobreza e criminalidade no Brasil. Enquanto crença de origem africana apresenta-se, para esses, como o verdadeiro anti-cristo, esquecendo e renegando o papel vital das comunidades religiosas do Candomblé na integração comunitária, no combate à pobreza e à fome. A própria identidade das missões evangélicas assenta muito na oposição ao Candomblé. Sem o culto aos antigos deuses dos escravos, os evangélicos perderiam parte da sua força e mensagem – marcada por um fundamentalismo de ataque.
Em Portugal, o culto aos Òrìsás começa a disseminar-se, através dos mais diversos canais sociais e mediáticos. A televisão, através das telenovelas, abriu a porta à curiosidade e ao sensorial. O crescendo fluxo de trocas simbólicas entre Portugal e o Brasil acelerou o processo. Todavia, devido a uma ainda existente moralidade e convencional ética/estética católica, o culto aos Òrìsás ganha maior relevo através da Umbanda, religião brasileira por excelência, e promotora do sincretismo afro-católico. Ademais, a própria religião auto-estigmatiza-se, através de um sem número de novos sacerdotes, que não tendo completado os ritos iniciáticos ou até mesmo não tendo sido iniciados no culto, se afirmam megafonicamente como pais e mães-de-santo. Institucionalmente, em Portugal, a fronteira será quebrada quando o governo português se dispuser a oficializar os cultos afro-brasileiros, e lhes conferir estatuto de igualdade face às demais religiões. Tal só ocorrerá quando o Ocidente deixar de centrar o diálogo intercultural e inter-religioso na dicotomia cristianismo/islamismo.
A crença animista e panteísta do culto aos Òrìsás, a incorporação, a estética berrante e os sistemas adivinhatórios, têm constituído uma complexa barreira entre a prevalência do culto e a discriminação generalizada.
Convencionalmente atribuísse às sociedades escravocratas, de vivência religiosa cristã-católica, a responsabilidade da segregação e discriminação do culto aos antigos deuses/semi-deuses africanos. A organização dos negros em confrarias religiosas do tipo católico, o missionarismo dos sacerdotes católicos e o medo face ao desconhecido, serviram durante décadas para fecundar a marginalização que perdurou até hoje, composta de todos os mais negativos adjectivos.
Todavia, as fronteiras erguem-se em todas as direcções. Em África, o culto aos Òrìsás sofre também de um estigma social extremamente forte. Embora seja considerada a mãe de todas as crenças, o legado tradicional e uma herança cultural, o culto tem no fulguroso islamismo e no crescente cristianismo importantes segregadores e estigmatizadores sociais.
No Brasil, à medida que o catolicismo vai perdendo expressão e o poder central vai afirmando o seu laicismo positivo – através de medidas de reconhecimento da pluralidade religiosa e de compensação da dívida histórica face ao culto aos Òrìsás (ali chamado de Candomblé) – crescem entre as novas expressões religiosas o mais profundo preconceito, perigoso e ilegal ataque à religião dos Òrìsás. As missões evangélicas, sobre todas as suas formas, acusam a herança religiosa africana de ser responsável pela pobreza e criminalidade no Brasil. Enquanto crença de origem africana apresenta-se, para esses, como o verdadeiro anti-cristo, esquecendo e renegando o papel vital das comunidades religiosas do Candomblé na integração comunitária, no combate à pobreza e à fome. A própria identidade das missões evangélicas assenta muito na oposição ao Candomblé. Sem o culto aos antigos deuses dos escravos, os evangélicos perderiam parte da sua força e mensagem – marcada por um fundamentalismo de ataque.
Em Portugal, o culto aos Òrìsás começa a disseminar-se, através dos mais diversos canais sociais e mediáticos. A televisão, através das telenovelas, abriu a porta à curiosidade e ao sensorial. O crescendo fluxo de trocas simbólicas entre Portugal e o Brasil acelerou o processo. Todavia, devido a uma ainda existente moralidade e convencional ética/estética católica, o culto aos Òrìsás ganha maior relevo através da Umbanda, religião brasileira por excelência, e promotora do sincretismo afro-católico. Ademais, a própria religião auto-estigmatiza-se, através de um sem número de novos sacerdotes, que não tendo completado os ritos iniciáticos ou até mesmo não tendo sido iniciados no culto, se afirmam megafonicamente como pais e mães-de-santo. Institucionalmente, em Portugal, a fronteira será quebrada quando o governo português se dispuser a oficializar os cultos afro-brasileiros, e lhes conferir estatuto de igualdade face às demais religiões. Tal só ocorrerá quando o Ocidente deixar de centrar o diálogo intercultural e inter-religioso na dicotomia cristianismo/islamismo.
(pré-publicação de artigo da Revista Sem Correntes)
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