Prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar. Eu venho lá do sertão, um sertão longínquo, diferente, uma terra do nunca, longe do equilíbrio, além das brumas de uma Avalon que para muitos não existe. E o que digo pode não lhe agradar. Aprendi a dizer não, não à estupidez, não à normose, o normal dentro da neurose. Aprendi a ver a morte sem chorar, a morte física e a dos hábitos caducos. E penso que é isso em mim que muito lhe incomoda, já que há muita coisa fora do lugar e eu vivo prá consertar. Afinal, por que estou onde estou? Percebi a marcha da boiada e saquei que nela já fui mestre, doutor e rei, seguindo os mornos e insossos com um belo cabresto que ver não ousei. Também reconheço que já fui boiadeiro com laço firme e braço forte. Naquela ótica, filhos, alunos e colegas mais jovens eram feitos para obedecer sem direito a questionamentos. Havia aprendido bem com os governos dos anos 60 e 70. Pelos anos de estudo, idade e títulos, eu era o dono do conhecimento, guia e sócio da boiada. Aclamado, segurei muito gado e muita gente durante a vida metódica e castrada, ensinando o único caminho certo, aquele de entrar um dia no matadouro com orgulho e marca registrada. Seguia como num sonho, ou pesadelo, onde boiadeiro era um rei. Mas o tempo foi passando, o mundo foi rodando, as visões se clareando, até que um dia acordei! Então, caíram os cabrestos, os tapumes invisíveis a olho nu, e não pude mais seguir altivo, valente, dono de gado e gente. Afinal, gado a gente tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente! Lembrei-me da Bell, cujos algozes ainda se chafurdam nos tempos de boiadeiro-rei, esquecendo-se dos fortes ecos da pradaria e dos bumerangues energéticos que fazem grandes estragos na volta imprevisível em meio à tempestade e à ventania. Vejo que há ainda muitos que se dizem mestres e doutores que seguem seus sonhos de boiadeiros-rei, ferrando, engordando e matando quem ousa desafiar as cartilhas amareladas, pregando que a ciência é definida pelo conjunto de lambanças e abusos onde se lambuzam. Nas reuniões, primam pelas falácias e pelo inútil. Na Física, a boa é só a clássica, onde observador não interfere no observado, onde aluno é só objeto e as experiências que valem só ocorrem com equipamentos do mundo ideal e irreal. Segundo os emissários de laço firme e braço forte, quem deixa esses maravilhosos equipamentos de lado e leva os alunos para práticas abertas à natureza, é ignorante e não entende de boiada. Física Quântica na saúde e na vida é pura bobagem! É como Avalon ou o gato de Schrodinger que, na prática, não existem. Para esses boiadeiros-rei, é preciso ser sério na ciência, mesmo que morto. O morto sério, moralista e castrado, nunca acha que está morto. Para os inúmeros boiadeiros-rei, o “até que um dia acordei” ainda não chegou. E, olha, se você não concordar, não posso me desculpar, pois não canto prá enganar. Vou pegar minha viola, deixar você de lado e cantar noutro lugar. Fica você com a mesmice que lhe é conhecida, o engodo do caminho único, insistindo em florear e bendizer o matadouro, seu fúnebre objetivo final. Quanto a mim, vou para lugares onde, como diz F. Capra, até as pedras ouvem. Ficaria feliz, entretanto, se você se questionasse, mesmo que nas sombras da noite, como fez Nicodemos. Ah, se você quisesse ir até mais longe do que eu, construindo um reino que não tem rei! Seria uma disparada na sua espiral evolutiva. Quer vir? Quem sabe um dia quando você, de verdade, entender a mensagem.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
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