segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Historia dos Boiadeiros

Historia dos Boiadeiros

A força econômica do Brasil Colônia residiu em muito nos engenhos produtores de álcool e de açúcar, utilizando a força animal; do boi por excelência, equivalente nos dias de hoje ao indispensável motor elétrico.
Para cuidar das boiadas e de outros animais do pasto, nasceu dessa atividade um tipo caracteristico conhecido pelo nome de Carreiro ou Boiadeiros.
O Boiadeiro é antes de tudo um homem forte, másculo, jovial, ingênuo, respeitador, valente, namorador, sincero, companheiro, resistente, trabalhador e muito festeiro. Suas propriedades se restringem ao cavalo de sua predileção, a sua rede tarimba de capim seco, um céu cheio de estrelas e uma viola dependurada na parede da taipa, testemunha plangente dos ardores e dos cantares.
Freguês acatado dos alambiques de todas as religiões, sua “prova” é disputada e, de acordo com seu gosto, garante a fama da cachaça local;.
Sua exclamação “arre égua” complementada pelo “esta é boa!”, é selo de qualidade, daí passa para a mistura de mel e gotas de limão e, lambendo os beiços, esperto se despede:
“Adeus, meu camarada, até de repente, até outro dia, até outra hora...”

É contumaz tocador de viola, compulsivo dançador, cantador, súbito nos repentes, sem contar com chistes e provocações certeiras, maliciosas, mas sem dano maior à responsabilidade de quem quer que seja. Sua prenda maior, além da “menina do sobrado”, é ser amigo de todos, bornal sempre aberto a qualquer camarada que precise da rapadura, do jabá, da farinha e do imprescindível cigarro de palha.
Não se ilude com a posse das boiadas, das fazendas e estâncias do patrãozinho terreno. Sabe perfeitamente que dono definitivo é Zambi, Vaqueiro-mór, proprietário de tudo que existe na terra e no céu.
Desencarnado, aprendeu com a religião de Umbanda muitas coisas...
Hoje, num passe miraculoso, sai da campina astral e manifesta-se nos milhares de Terreiros, levando para todos energia e orgulho pátrio. Mas também vê com tristeza que os “bóias-frias”, os “sem terra” explorados, espoliados, são parte de sua família, são manadas de almas à mercê dos latifúndios, multinacionais impiedosos, na gana de imperializar os bens produtivos de terra, bem comum de todos os brasileiros.
Dando folga ao berrante, toca com os companheiros alados seu dizer de trovador sertanejo:

“Eu vou ralando o coco / ralando até aqui... / Eu vou ralando o coco, morena / o coco de ouricuri...”

Logo recebe resposta, quem mandou provocar...

”Um boi preto, um boi pintado, / cada um tem sua cor,/ cada coração um jeito / de mostrar o seu amor.”

Eh-êe-ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê, boi !... Tchou ! Tchou ! Tchou!... Eh-êe-ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê, boi !...

Relação Médium-Guia

A incorporação do Boiadeiro, quase sempre em homens, confere uma virilidade inusitada ao “aparelho” emprestando arrogância, valentia e muita alegria, alegria descompromissada com os interesses atuais. Seu andar gingado parece estar sempre à frente de um boi bravo. Brincalhão, gosta de improvisar trovas e dar música a algumas delas. Nunca se furta a dançar o samba de roda – sambangola – onde se mostra exímio dançarino que, além de agilizar a dança com parceiros físicos, se supera em trejeitos com parceiros astrais, tudo ao mesmo tempo!
Gosta comedidamente das coisas certas: beber, fumar, namorar, trabalhar, descansar na rede ou na tarimba, cantar, improvisar repentes; acha que tudo pode ser feito, desde que a ninguém prejudique.
É amigo leal de quem o recepciona e mantém com ele laços afetivos.

Força da natureza: apreciam a natureza campestre, cavalos, bois e aves. Despreocupados, confiam no Boiadeiro Maior – Zambi.

Expressão: másculo, jovial, valente, ingênuo, sincero, companheiro, alegre, festeiro, namorador, respeitador, trabalhador.

Getuá Meu amigo Boiadeiro!

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